domingo, 23 de maio de 2010

NAVEGANTE (poema)

Sou navegante com meu barco a singrar,.
Baleeira à vela movida à esperança sigo a velejar.
Vou sem receio ou pavor, no balanço da água encontrar meu amor.
Velho Chico, mineiro tão nato, barulho pacato que embala o sertão.
De cidade em cidade eu me ponho a olhar pra barranca do rio a ti procurar
Onde está a cabocla mineira, menina roceira que na praia do rio,
Põe-se a cantar, cantiga de roda e a roupa a lavar.
Batendo na pedra pra sujeira tirar no mato rasteiro quarador a esperar.
Com bacia no chão e mão delicada, faz chover sobre a roupa a quarar,
Para que os raios do sol escaldantes não venham queimar o lençol de algodão,
Que seu pai comprou do caixeiro ambulante que insistia em falar:
Compra pra aquela caboclinha na porta a espiar, com olhos bem vivo igual luz do luar.
Para enfeitar a sua cama, pois lençol de algodão lhe ajuda a sonhar,
Com amor navegante que no rio virá ao coração da menina consolo trará.
Serra da canastra ponto de partida, belas cidades vejo na arriscada descida.
Nem mesmo tendo ao dispor Três Maria para escolher.
Não! Coração sussurrou, correnteza agitada a catraia empurrou,
A bússola do amor apontou rumo norte, movido a sonhar seguia a remar,
Principais afluentes vendo avidez de amar despejaram águas mil,
O leito do rio generoso aceitou assim meu barco celeridade ganhou.
Ao agito do vento a flâmula do amor, no alto do mastro se pôs a bailar.
Paraopeba deságua no leito do Chico, Abaeté igualmente em seu amor doação,
As velhas do rio servas da coroa deram-se ao Chico sem nada exigir,
Solícitos outros rios colaboram igualmente. Jequitaí, Urucuia, rio Verde esperança, e Paracatu. Mesmo em tempo de seca não negam o pouco que tem.
Assim sigo o amor perseguir, mesmo em tempestade não vou desistir.
Pirapora eu rezo a virgem Senhora, bom Jesus peço ajuda para que chegue a aurora,
E os raios do amor por quem naveguei vem salvar coração que na vazante deixei.
Nem inverno esfria a fé, Pois sei que outono é preciso, pra folha cair.
Ao sol de verão volto sorrir, pois primavera do amor faz o novo florir.
Meu sentir não engana em onde eu quero cheguei, em porto seguro o barco atraquei.
Perguntei pelas ruas onde mora o amor, que nas águas do Chico seu corpo banhou,
Esse amor que procuro é a singela menina, de pele queimada pelo sol que calcina
Teu amor, sertaneja foi que vim buscar. Obrigado velho Chico por me ajudar.
Segue agora seu curso a outros levarem, até que tuas águas abracem o mar.

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