sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Laços

Certo dia eu amanheci com a sensibilidade a flor da pele, a solidão começava a mostrar sua cara e a saudade começava a falar de amor. Sabe esse dia que você acorda com vontade de receber um abraço, um afago na alma, um beijo? Pois é, era assim que eu estava.
Andando pelas ruas da cidade, deparei em uma galeria, uma loja que anunciava um curso para embalagens de presente e enfeites; o brilho, as cores fortes e delicadas das fitas de cetim me chamaram a atenção e ao mesmo tempo me atraíram para o interior da loja. Ali comecei a observar as mãos ágeis da instrutora e sua voz delicada a ensinar suas alunas, que por vez olhavam atentamente. Senti-me constrangido, pois era uma atmosfera puramente feminina.
Tinha laços de todas as formas, laços em formas de abraços, em forma de flores de várias cores pareciam um jardim. Envoltos em caixas, unidos a faixas, laçados em panos, que prendiam ramos. Laços que uniam alianças amarravam tranças, enfeitavam vestidos. Tinha até um “laço doce”, que na verdade era uma fita vermelha que prendia um pequeno cartão a um bombom Serenata de amor, cujo dizer do cartão era o seguinte: “com carinho, para adoçar sua vida”. Olha juro, mas juro mesmo! Nessa hora eu queria ser serenata de amor, postado na janela do teu coração cantar-lhe a mais doce canção de amor. Mas eu queria também que você fosse um Sonho de Valsa, preso com um laço branco, unido a um cartão com os seguintes dizeres: “quero embalar suas noites.” Queria eu que fosse mil noites de amor, carinho e compreensão.
Observei na vitrine que estava do meu lado uma caixa em formato de coração coberta por um veludo vermelho lacrada por um laço de fita amarelo em forma de flor. Vislumbrado com tamanha delicadeza, eu pedi a vendedora pra me mostrar tal objeto, curioso para ver o interior do mesmo, perguntei se tinha jeito de abrir sem danificar o laço, ela então pegando com as pontas dos dedos uma ponta do laço puxou sem nenhum esforço a laçada se desfez. Vi a caixa vazia, mas o interior era forrado com um veludo branco, estava pronto para receber uma jóia.
Nesse instante eu tive uma grande e bela lição! Aprendi por exemplo que laço é diferente de nó. Laço não prende, uni; o laço ajusta as partes unidas, mas não aperta e nem sufoca. O laço amolda as partes envolvendo-as como num só corpo, porem sem deixar feridas. O laço é tão barato, mas banha de ouro aquilo que é lata, ele é o glamour daquilo que é simples. Laço é sinônimo de abraço sem nenhum pudor, seja ele de qualquer cor, de que fita for, será sempre a etiqueta da lembrancinha que alguém ganhou.
. O laço é o amor, o nó é o apego. O laço é o par de alianças que uni duas vidas respeitando a individualidade de cada uma, e por isso ela é o vinculo de um compromisso eterno. O nó é como elos de uma corrente prendem um ao outro, o colo feito para o encaixe vai se desgastando, um elo arrebenta e o outro fica só.
Alguém pode dizer o laço se desprende com facilidade, sim ele é projetado para se desfazer com facilidade, para que isso não aconteça é preciso manusear o objeto preso por um laço com delicadeza, com jeito é preciso pegar com carinho, colocar em local seguro. Se pegar com força, jogar de qualquer jeito o laço de rompe.
Você já tentou desatar um nó em uma fita de cetim? E difícil e quando você consegue, as partes presas pelo nó ficam enrugadas feias, muitas vezes o nó não se desfaz, ai tem que usar uma tesoura pra corta a fita, e ai já se viu, uma parte fica mutilada e a outra fica com o que não é seu.
Bom me deixa terminar por aqui, o assunto é bom, mas não posso ir alongando. Talvez você esteja perguntando: “E a caixa vermelha presa por um laço de fita amarela”? Essa caixa é o meu coração e nela coloco todo meu amor. Mas veja, eu quero receber ela de volta com seu coração dentro, preso no mesmo laço, para que eu possa guardar no hostiário do meu peito.





Vitório Evangelista Chaves.
29/08/210