domingo, 23 de maio de 2010

ESPERANÇA E ILUSÃO

Há algum tempo me ponho a fazer esta reflexão sobre a esperança e a ilusão. São paralelas, que parecem conduzir-nos ao mesmo objetivo. Digo parecem, pois enquanto uma finaliza nos sonhos realizados, a outra leva aos pesadelos intermináveis. Na via da esperança as flores não são sempre perceptíveis, os espinhos estão sempre ao alcance de nossos pés, para testar a objetividade de nossos ideais. O trajeto é íngreme, para colocar em xeque nossa paciência. A estrada da esperança não tem atalho, nem desvios, é um curso de retas e curvas. O caminho da esperança e estreito é quase um beco, mas sempre cabem nossos sonhos, tenham eles o peso e o tamanho que tiverem. No caminho da esperança, pensamos que dirigimos nosso carro, mas na verdade somos guiados por Deus!
A esperança não se engana! Esta frase de São Paulo é o conceito ímpar dessa virtude teologal. A esperança não se engana, portanto, ela é a estrada onde devemos caminhar. Muito definem a esperança como uma jogada de sorte, não claro que não! Ela é uma jogada pensada em seus mínimos detalhes, ensaiada incansavelmente, por esse motivo ela não se engana, não morre; pode passar por um estado de coma profundo, mas sempre surpreende, o time da esperança pode está perdendo o jogo de dez a zero, aos quarenta e seis minutos do segundo tempo no apito final, vira-se o placar.
Desde a antiguidade a âncora é o símbolo da esperança, porque e justamente nela que ancoramos o barco de nossos sonhos para não serem arrastados pela tempestade da vida. Todos os nossos sonhos são passiveis de realizações, quando sonhados com a cabeça no travesseiro da esperança. Diz o ditado popular que “quem espera sempre alcança” isto é verdade, quem espera sempre alcança; mesmo que o objeto esperado nunca chegue ao alcance das mãos.
Ao contrário da esperança, a ilusão é enganadora, na avenida da ilusão, as flores são perceptíveis, a fragrância embriaga seus caminhantes, justamente para não perceberem o abismo e o nada que os esperam. Na larga estrada da ilusão os espinhos estão sempre camuflados pelos verdes das folhas. Nessa estrada não sobe morro nem desce ladeira, curvas? Nem pensar é retas intermináveis que nos fazem perder de vista nossos ideais. No time da ilusão ninguém tem treino tático, jogada ensaiada, tudo é pura sorte, na praça da ilusão tudo é festa, lá não tem amanhã, somente o hoje é que domina. Na casa da ilusão ninguém dorme, apaga. La não se sonha, tem devaneio com a cabeça no travesseiro de vento.
Na avenida da ilusão, sempre pensamos que Deus dirige nosso carro, mas somos sempre nós que traçamos a rota e sempre movidos por um coração, desejoso de embalar na rede da ilusão.
No dicionário da esperança não existe a palavra sinistro, pois o coração absorto na esperança tem como fruto a ciência do bem viver, que por conseqüência prova a fidelidade. A fidelidade provada no crisol produz a esperança. Cultivar a esperança e engravidar dos bens desejados e deixar Deus acompanhar o pré-natal.
Ilusão! Alguns falam “doce ilusão”. Doce na boca, quando se mastiga, mas quando chega ao estomago ela amarga com chá de picumã. No relógio da ilusão a felicidade dura exatamente um segundo, e logo em seguida dar-se lugar ao vazio existencial; no relógio da esperança... Não, não mesmo! A esperança não tem relógio, a felicidade dura uma eternidade.
O ilusor fala que a esperança é cega, isso é fábula; cega é a ilusão, pois é desprovida da fé em Deus. Fala-se em ilusão de ótica! Aí sim, e enxergar o que não existe e apoiar a existência nessa fraude. Tem a ilusão monetária: é achar que você ficou mais rico, porque seu salário aumentou trinta por cento, mas não contabilizar que os preços subiram sessenta por cento.
Esperança tem a Cinderela, quando perde seu único pé de sapato na festa de aniversário do príncipe encantado. Ilusão vive a madrasta malvada que coleciona centenas de pares de calçado e acaba amargando a solidão, pois demorou no camarim da indecisão e não percebeu quando o príncipe dos sonhos passou com seu cavalo arriado de possibilidades. Esperança foi o motivador do menino Davi na luta contra o gigante Golias. Ilusão foi a do pequeno Polegar, quando pensou ser o grande, porque desfilava em cima do gigante adormecido. Ser esperançoso é ter faro canino, é perseguir a caça quando só se sente o cheiro e não quando se vê as pegadas. Ilusório é não enxergar a verdade que se ajoelha aos seus pés e prostrar-se diante do imaginário que desfila longe dos seus olhos enfeitado de plumas e paetês. A ilusão é voar quando não se tem asas, a esperança é saber caminhar mesmo quando tem possibilidades de voar. A esperança é o reflexo de Deus, a ilusão e a fotografia do nada.
É preciso repensar nossa caminhada, se necessário, deixar Deus refazer a rota; sonhar é bom, mas têm que ser acordado, pés firmes na realidade e olhos fixos no infinito de Deus. Dar vazão a ilusão e atracar nosso barco no porto da solidão e encher o coração de uma alegria efêmera.
Ilusão não é guerra é genocídio, não e ventania é um tufão, não é um abalo, é um terremoto. Não é uma maré alta, é um mar bravio; não é uma onda gigante e um tsunami. Não é o escuro da noite em nossa caminhada para Deus, é a ausência da luz divina no caminho de nossa existência!
A ilusão é um gozo genital, a esperança é o orgasmo da alma!
Que o Deus da esperança esteja em nossos corações.


Vitório Evangelista Chaves.
10/ 01/2009


Um comentário:

Anônimo disse...

caracaaas que texto maravilhoso! amei. Parabéns vitorio vc brilhou rsrsrsrsrsrs