quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Iniciativa do anúncio

Vou começar citando o número 222 do documento 61 da CNBB. “A tarefa fundamental para qual Cristo envia seus discípulos é o anúncio da boa nova”. Veja bem, tarefa fundamental. Está no fundamento de tudo mais que a Igreja possa e deva realizar. Sem esse fundamento tudo que construímos pode vir a desmoronar. Recordo de um fato acontecido no ano de 1989. Uma senhora que era de uma igreja evangélica pentecostal, foi até a Conferencia Vicentina pedir ajuda para reformar seu barracão, cujo, parte tinha sido destruída pelas chuvas. Alguém que a conhecia perguntou a ela: “mas você e crente, o que está fazendo aqui na conferencia”? Ela respondeu: “lá eles sabem pregar e orar pelas pessoas. eu sinto-me muito feliz freqüentando o culto, aqui eles sabem construir casa de doar cesta básica”. É claro que em nenhuma das duas situações respondiam os anseios do coração daquela mulher, mas o fato que me chamou atenção era que no nosso caso a evangelização kerigmática não estava no fundamento da ação. Jesus tinha saído da Judéia e voltava para a Galiléia, nesse trajeto era preciso passar por Samaria, na cidade de Sicar, ele parou nas terras que José tinha herdado de seu pai, o patriarca Jacó. Cansado da viajem, ele sentou junto ao poço de Jacó. Quanto aproximou uma mulher da Samaria para buscar água. Enquanto isso os discípulos de Jesus, tinham ido a cidade comprar alimento. (cf Jo 4,1-6) O primeiro fato que vou abordar aqui é a atitude dos discípulos. Com certeza eles cruzaram o caminho dessa mulher, entres eles saírem para a cidade e ela vir ao poço, ambos ficaram quase que frente a frente no caminho. Mas pelo que parece eles nem perceberam aquela mulher. Estavam tão preocupados com o que era acidental, ou secundário que não atentaram para o fundamental, para aquilo que de fato eles foram chamados a fazer. Os discípulos poderiam pelo menos dizer para ela: “Lá no poço tem um homem que vai mudar a sua vida, que quer curar toda sua história sofrida”. Infelizmente essa atitude é mais comum do que imaginamos, ainda não aprendemos a priorizar o que é fundamental na missão de evangelizar. Preocupações secundárias têm nos impedidos de ver a necessidade real de salvação do homem moderno. Retomando o texto Sagrado vamos agora observar a atitude de Jesus em relação à samaritana, “Veio uma mulher da Samaria buscar água. Jesus lhe disse: dá-me de beber”. (Jo 4,7) A mulher veio, tirou água no poço e nem se quer cumprimentou Jesus, que já se encontrava no local, quando ela ia saindo como entrou, calada; Jesus tomou a iniciativa do diálogo: “dá-me de beber”. Jesus agiu assim, porque a iniciativa de salvação é de Deus. Atentamos para o que João escreve em sua primeira epístola: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados”. (1Jo 4,10) Assim também o evangelizador deve tomar a iniciativa do anúncio. Muitas vezes as pessoas estão tão sofridas e decepcionadas que se quer procuram saída para resolver suas crises. Não interessa de onde tenhamos que partir, contando que seja nossa a iniciativa do diálogo que conduz o outro a salvação. Mesmo que tenha que partir de uma necessidade do evangelizador, como foi Jesus nesse caso. Ele de fato tinha sede, e partiu desse pressuposto para evangelizar aquela mulher. Esse foi o meio que Jesus encontrou para provocar aquela mulher, para fazê-la reagir. Diante do pedido de Jesus ela então responde: “como tu sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana”? (Jo 4,9) Nesta fala, ela manifesta a Jesus toda sua revolta, expõe a ele a ferida do seu coração. Sentia se discriminada pelos judeus pelo fato de ser mulher e samaritana. E antes de chegar ao poço essa ferida tinha se agravado ainda mais, pela atitude de indiferença dos discípulos que ignorou ela no caminho. Conhecer a necessidade realidade Jesus então respondeu: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: dá-me de beber, tu é que lhe pedirias, e ele te daria água viva”. (Jo 4,10) Jesus se mostra aqui um profundo conhecedor da necessidade humana, de fato ele sabia de que aquela mulher precisava. O evangelizador precisa ficar atento a necessidade principal do homem e da mulher, destinatários de seu anúncio. Caso contrário, será uma evangelização desvinculada da realidade, portanto não trará saciedade ao coração. Jesus sabia que ela tinha sede, e sabia também que a água que ela buscava era incapaz de saciá-la. Jesus não faz crítica a ela, nem a condena por está buscando algo que não sacia, mas lhe oferece uma água viva. Mas para ter acesso a essa água vivificante era necessário conhecer o dom de Deus e conhecer aquele que dialogava com ela. O que Jesus estava dizendo para ela, era que a água que jorrava dos altares de Betel e Dã, construídos pelo Rei Jeroboão não resolvia nem preenchia seu vazio existencial, não saciava sua sede de amor, tanto que ela pergunta: “onde tens dessa água viva”? (Jo 4,11) Jesus apontando para o poço lhe diz: “todo o que beber dessa água, terá sede de novo” (Jô 4,13) Disso ela bem sabia, pois sempre tinha necessidade de voltar ali. O evangelizador é aquele que sabe separar o homem dos altares onde ele pensa esta saciando sua sede de eternidade. Infelizmente o que tem se visto é alguns evangelizadores preocupados e quebrar altares com os ídolos modernos, sem antes resgatar o homem que está prostrado diante deles. Além de não destruir os altares, tiramos do homem a possibilidade de salvação. Hoje estamos vivendo em uma sociedade que constrói nas esquinas altares para saciar o vazio e a sede existencial do homem moderno, nunca o homem foi tão escravo do prazer e de um prazer egoísta que o faz pisar em valores fundamentais e essenciais a vida. O pior é que ele não percebe que esse prazer desenfreado pelo que é passageiro faz dele um objeto descartável, tira-lhe o direito da eternidade. Alternativa eficiente O evangelizador é aquele que tem a alternativa correta, eficiente e eficaz para oferecer ao homem sedento de amor e paz, “mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna”. (Jo 4,14) Jesus mexe em outra ferida dessa mulher que era muito dolorosa para ela, quando ele a ordena: “Vai chamar teu marido e volta aqui”. (Jo 4,16) Mas não tocar nesse assunto era deixar a ferida sem cauterizar. A mulher responde: “Eu não tenho marido”. (Jo 4,17a) Jesus não disse que ela estava mentindo, nem a recriminou pelo fato de ter tido 5 maridos, o que agora está com ela, não era seu esposo. Vamos fixar na primeira frase da réplica de Jesus a fala dessa mulher: “Disseste bem…” (Jo 4,17b) Essa mulher tinha muitos defeitos, deveria ser recriminada pelos próprios samaritanos, todos que a olhavam só viam defeitos, mas Jesus se agarra na única virtude que ela deveria ter, “disseste bem” nesse contexto essa frase tem uma conotação de: você é sincera, você está falando a verdade. Onde todos viam defeitos Jesus viu virtude. Isso foi fundamental para a conversão e cura dessa mulher. Jesus é tão convincente na sua abordagem, que a samaritana troca a água que ela estava acostumada a beber, pela água que esse desconhecido, até então, lhe ofereceu. O evangelizador precisa provocar nos destinatários do anúncio essa sede de Jesus, que todos diante da pregação do Evangelho, possam responder como essa mulher: “Senhor. Dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede, nem tenha que vir aqui tirar água”. (Jo 4,15)

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