segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Aprendendo a ser amado

Marco 6,30-32 Este trecho guardado pelo Evangelista Marcos é muito sugestivo e bem apropriado para darmos inicio a pregação desse dia. O tema dessa manhã é: aprendendo a ser amado. Pode até parecer estranho, mas este fato é bem comum entre nós. Precisamos nos deixar amar pelo Senhor Jesus. Geralmente nós nos esforçamos muito para amar o senhor e a missão que ele nos confiou, esse deveria ser um fato natural, fruto do amor que dele recebemos no cotidiano de nossa vida. Nesse texto temos um fato que acontece, senão todos os dias, quase todos os dia em nossa vida. “os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-lhe tudo que havia feito e ensinado.” (MC 6,30) Atarefados como somos o que não nos falta e o que contar para o Senhor Jesus. Em nossas agendas o que não falta é encontros, pregações e reuniões que absorve nosso tempo. Imagino aqui a paciência de Jesus em escutar os relatos. Eram tantas curas, pessoas transformadas pela pregação, a várias libertações que aconteciam quando eles ministravam encontros, retiros, viagens missionárias e tantos outros. Prestem bem atenção essa e a nossa rotina, senão de todos, pelos menos da maioria que aqui se encontra. Vamos recorrer ao texto paralelo a este, guardado pelo evangelista Lucas, assim vamos entender melhor. “Voltaram os setenta e dois alegres dizendo: Senhor até os demônios se nos submetem em teu nome.” (LC 10, 17) Notemos dois pontos importantes registrado por Lucas, enquanto os apóstolos e discípulos narravam a Jesus os fatos extraordinários da missão, percebe-se um semblante de alegria. Eles estavam verdadeiramente envolvidos em um clima de alegria, ao falar não economizavam sorriso e boas gargalhadas, isso era notório! Agora o que precisamos perceber era qual o motivo de tanta alegria, qual era o agente motivador de tanta felicidade, o que de fato levava satisfação a alma desse abnegados servos do evangelho. “Senhor até os demônios se nos submetem em teu nome.” O motivo de tanta alegria era a “obra” que eles faziam, embora reconhecessem que era no nome de Jesus. Esse é o grande risco do ativismo religioso, fazer da obra a causa de nossa alegria em detrimento do Senhor da obra. Nós podemos caminhar vários anos motivados pela alegria que o ministério nos proporciona, mas quando esse entusiasmo nos é tirado nós nos perdemos juntos com a obra que fazemos. Essa inversão de valores acontece ainda no momento de nosso chamado, nós nos prendemos aquilo que trás um brilho imediato aos olhos e não atentamos para os pequenos detalhes que nos levam a experiências profundas. O grande exemplo disso para nós é a experiência vivida pelo príncipe dos apóstolos no ato de seu chamado. Vamos atentar aos detalhes do chamado de Pedro. “... Levou-o a Jesus, e Jesus fixando nele o olhar disse: tu és Simão filho de João; serás chamado Cefas, que quer dizer pedra.” (JO 1,42) Novamente vamos recorrer a uma citação paralela para entendermos melhor a situação. Marcos capítulo um verso dezessete esta no mesmo contexto da passagem do evangelho de são João: o chamado de Pedro “vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens.” No chamado que salta de imediato aos olhos de Pedro era a novidade da missão, ser pescador de homens. Pedro deve ter pensado no ganho que tal missão lhe traria; seria conhecido, elogiado, iria conhecer cidades e até outros países. Para um cidadão pobre e sem cultura como ele tudo isso seria um grande ganho emocional. Essa missão era uma massagem no seu ego. Daí poderá entender a atitude egoísta de Pedro no monte da transfiguração. “Mestre e bom estarmos aqui, faremos três tendas: uma para ti, outra para Moises e outra para Elias.” (MC 9,5) só pensava no seu próprio bem e não nos dos outros. Voltemos nossa atenção ao texto do evangelista João; olha só o primeiro detalhe, antes de qualquer palavra vamos observar o gesto de Jesus. “Fixando nele o olhar.” Pedro não percebeu toda carga de amor contida no olhar de Jesus. Jesus não lança um olhar vazio como nós muitas vezes nós fazemos. O olhar do Senhor é carregado de amor, transborda amor. O jovem rico que queria possuir a vida eterna interroga Jesus sobre o que ele devia fazer para ter direito a tal; antes de lhe mandar vender tudo para segui-lo, o texto afirma que “Jesus fixou nele o olhar, amou-o.” (MC 9,21) se não ficarmos atentos a esse detalhe fundamental nós perdemos o melhor momento de nosso chamado e que com certeza prejudicará nossa missão. Eu não estou dizendo que não podemos nos alegrar com a missão, nem estou dizendo que é proibido se satisfazer dela, mas ela não pode ser o motivador. Irmãos isto é tão claro, temos vários exemplos pertos de nós para entendermos isso, sem contar os vários exemplos que podemos recorrer na sagrada escritura. Porque o reinado de Saul foi um fracasso para Israel? Porque ele naufragou em sua missão? Será que ele não foi uma escolha de Javé? Claro que foi! O problema é que Saul não fez uma profunda experiência do amor de Javé como seu sucessor Davi. O que brilhou forte diante dos olhos de Saul foi o trono que era fugaz, por isso em seu desastrado reinado ele foi incapaz de se satisfazer com as ordens que o Senhor lhe dava. Quando o senhor lhe falava derrota os filisteus destroem tudo que ele tem, não trás nada de La; ele derrotava o inimigo destruía tudo que não tinha valor, e o que era de valor ele trazia para ele, ou seja. Era um eterno insatisfeito. Mas vamos voltar à escola de Pedro, em certa ocasião Pedro disse para Jesus que mesmo que Jesus fosse ocasião de queda para todos, para ele não seria, Jesus lhe respondeu: “antes que o galo cante, tu me terás negado três vezes” ao que ele respondeu que se fosse necessário morreria por Jesus. Nós já sabemos que de fato ele negou, mas vamos nos deter em um detalhe que aconteceu durante a negação. “Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra do Senhor. Hoje antes que o galo cante negar-me-ás três vezes. Saiu dali e chorou amargamente.” (LC 22,61-62) Voltando-se o Senhor olhou para Pedro. Novamente a história do olhar, é Jesus que toma a iniciativa de caçar Pedro com seu olhar pleno de amor. O texto também afirma que Pedro chorou amargamente, o choro para Pedro é amargo, porque não é fácil para qualquer pessoa reconhecer seu erro e derramar diante da pessoa ofendida todo seu orgulho. É bom a gente entender que Pedro não se arrependeu, ele foi levado ao arrependimento, isso é bem diferente. Nós somos incapazes de nos arrependermos, o muito que conseguimos é ter remorso, ou seja, reconhecer o erro, Judas Iscariotes reconheceu seu erro, no entanto morreu, porque não se sentiu perdoado. O arrependimento leva a humildade e ao pedido de perdão, o remorso leva ao orgulho, o orgulho a morte. Pedro não chora porque ele traiu, ele chora foi a quem ele traiu, quando Jesus olhou para ele, ele percebeu o mesmo olhar carregado de amor do momento de seu chamado, agora em circunstancias diferente, não mais no entusiasmo inicial, mas no momento de fracasso, de quebra de promessa que ele havia feito a Jesus Porque muitas vezes abandonamos o ministério e abandonamos também o Senhor? Porque quando o entusiasmo tem como motivador o ministério, a obra ele passa. O que não passa é o amor que Jesus tem por cada um de nós. O entusiasmo passa, mas o amor de Jesus por nós e nosso amor por ele nos leva a exercer o ministério por amor. Jesus quer nos curar aqui hoje, a partir da experiência do seu amor. Muitas vezes nós nos sentimos envergonhados perante o Senhor, por no auge do nosso chamado fazemos tantas promessas e juras de eterno amor a ele; mas quando o tempo passa e nós vamos experimentando o peso de nossa fragilidade e de nossos pecados, ai temos vergonha de cruzar nosso olhar com o olhar amoroso daquele que nos chamou para si desde o seio de nossa mãe. Irmão (ã) é preciso deixar-se transpassar por esse amor divino de Jesus, que o nosso amor humano muitas vezes é incapaz de compreender. Vamos retomar o texto de marcos que usamos para iniciar essa pregação para poder finalizar a mesma. “Vinde à parte para um lugar deserto e descansai um pouco.” (MC 6,31) Esse encontro arquidiocesano de pregadores é o deserto, no meio dele se encontra um oásis de graça e amor: O coração de Jesus. Vamos dele nos aproximar é embriagar do seu amor.

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