terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

DEPONDO AS ARMAS

Há mais de 30 anos atrás eu tive um vizinho assassinado numa circunstancia pouco comum. Ele embrenhou pelo mundo da marginalidade, saiu do bairro onde morava e foi residir na favela Morro do Papagaio, reduto de muita fama e violência na época. Na guerra de bandidos para ver quem dominava o Morro, ele matou um bandido muito famoso na época, que tinha apelido de diabo loiro. Então fama do Milton aumentou mais ainda, ficou respeitado no morro, comprou uma pistola 9 mm que era o top das armas na época é começou a falar em bom tom que o próximo seria o pelezinho, bandido mais temido da favela, que tinha fama de justiceiro. Pelezinho ficou sabendo e mandou um comparsa dele se aproximar do Milton de fazer amizade. Entre um papo e outro o Milton disse que tinha comprado uma pistola Alemã 9 mm, fingindo-se curioso o comparsa de Pelezinho pediu pra ver a arma, quando o Milton colocou a arma na mão dele, o cara disparou 9 tiros contra ele, Milton morreu com a arma que ele tinha comprado pra se defender. Talvez vocês estejam questionando, o que tem esse fato, com nosso encontro de cura? Eu digo tem tudo haver, pois vou falar agora justamente sobre as armas que prendemos em nossas mãos, para nos defender e nos tornamos vítimas delas. Vamos acompanhar atentamente a narrativa do possesso de Genesaré (Mc 5,1-20) “Passaram à outra margem do lago, ao território dos gerasenos. Assim que saíram da barca, um homem possesso do espírito imundo saiu do cemitério, onde tinha seu refúgio e veio-lhe ao encontro. Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros, pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar”. (V 1-4) Na narrativa da ressurreição da filha de Jairo e da mulher do fluxo de sangue, nós percebemos que eles não hesitaram e romper e desobedecer a Lei, porque ela era incapaz de responder ao anseio que ambos traziam. Agora estamos em Genesaré, território pagão, onde o homem possesso não hesita em romper com o sistema vigente, para ir correndo ao encontro de Jesus. O sistema era inoperante, não conseguia a libertação daquele homem e porque não conseguia o excluiu, considerando-o um homem morto. Veja que ele tinha seu refúgio (casa) no cemitério. Quem mora no cemitério é defunto, não tem vida. Mais uma vez o evangelho nos coloca diante de dois pontos antagônico, onde temos que decidir. Optamos por ficar em um sistema incapaz de gerar vida em nós, ou corremos na direção do Senhor Jesus. O que mais temos hoje em dia são filosofias religiosas prometendo resolver o drama do sofrimento humano, preencher o vazio existencial do coração do homem. Todo dia aparece uma nova seita, dizendo-se portadora de uma noticia nova, que num passe mágico vai resolver o drama do homem. Contra esses, Paulo escreve: “De fato, não há dois (evangelhos): há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema”. (Gal 1,7-8) Por outro lado o possesso de Genesaré, apesar de excluído pela sociedade se considerava um homem livre. Ele se achava acima da lei que regia seu território. Vejam só o que diz o texto: “Não podiam atá-lo nem com cadeia, mesmo nos sepulcros, pois tinha sido ligado muitas vezes com grilhões e cadeias, mas os despedaçara e ninguém o podia subjugar” Nada prendia esse homem, ninguém, nem instrumento algum eram capazes de subjugar. Podemos chamá-lo de Rambo de Genesaré. Herói do exercito Americano interpretado por Stallone. Johon Rambo como era conhecido, derrotava sozinho um exército inteiro, com sua força e habilidade em lidar com diversos armamentos. Entretanto em sua serie de filmes, depois de sangrentas batalhas vencidas por ele, sempre acabava em um lugar solitário e com várias feridas pelo corpo, Rambo era vítima de sua própria ousadia. Vejamos o que o texto de Marcos fala sobre o possesso: Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras (Mc 5,5) Ninguém feria esse homem, nem mesmo o sistema que por incompetência o exclui, mas não o feriar, ele era vítima de se mesmo. Feria-se com as pedras que lhe serviam de armas para sua defesa. Certa vez eu atendia um casal que estavam praticamente separados, eles vieram me procurar pedindo ajuda para ver se salvava o casamento. Quando dei a palavra para a esposa, ela começou a disparar acusações contra o marido em tom de muita ira. Ele então a interceptou, dizendo: “Não da pra conversar, pois você já vem armada para o diálogo”. Ela respondeu: “Claro que venho armada, já fui muito ferida por você”. Eu então entrei no meio e disse para ela, você não foi ferida, você está ferida e se ferindo ainda mais. A esposa concordou dizendo assim: “Sim, estou mesmo e ele está me ferindo”. Eu repliquei, Ele não te feriu nem está te ferindo, você está se ferindo com as armas que você trouxe para o diálogo. Nós estamos em um diálogo não em um campo de batalha, se você não depuser as armas, vai se ferir mais ainda, ao ponto de ser impossível a cura. Nós temos a tendência de ficar olhando para a mão do outro, tentando ver o aguilhão que nos fere, esquecendo de olhar para o deposito de armas e armas letais que estão no depósito de nosso coração, hora usamos uma, hora usamos outra, mas é sempre arma. Vejam que ironia, o deposito de armas da quarta companhia do exercito em Belo Horizonte explodiu há alguns anos atrás, matando dois soldados que faziam a guarda do local. É sempre assim, quando nosso depósito de armas e munições explode, nos que o guardamos somos os primeiros a sermos atingidos. Quando falo de armas, falo de sentimentos pobres, completamente desprovidos de valores, portanto incapazes de nos motivarem para a vitória. Falo de ódio, mágoa, ressentimento, rancor. Paulo escrevendo aos efésios diz: Mesmo em cólera não pequeis. Não se ponha o sol sobre vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio (Ef 4,26-27) encolerizar muitas vezes, ou quase sempre independe de nós, agora o que fazer com nossa cólera depende de nós, por isso Paulo diz, “mesmo em cólera não pequeis”. Por isso podemos usar a cólera como trampolino para alçar voou e vencer os contratempos, em vez de amarrá-la como enorme pedra aos pés e afundar-se no mar. Não se ponha o sol sobre vosso ressentimento, significa que de um dia para o outro podemos dormir sem dar nosso perdão. Quem dorme ressentido com o outro, dá lugar ao demônio no canto da cama. Além das armas temos que prestar atenção com as munições que as carregamos. O complexo de solidão, angústia, ansiedade, sentimento de inferioridade e rejeição, carência de afeto e outros. Entenderam agora, porque quando Jesus pergunta o nome do demônio e responde: “Legião é o meu nome, porque somos muito” (Mc 5,9) Voltando ao personagem Johon Rambo, sempre que acaba um filme ele deixa a entender que outras batalhas viram, porque armas alimentam guerras. Com esse arsenal de sentimentos negativos dentro de nós, estamos sempre alimentando guerras, o pior é que quando acaba uma batalha, como Johon Rambo sempre terminamos solitários e com muitas feridas no coração. Meu irmão chega de bombardear seu próprio coração, é hora de depor armas é hora de render-se totalmente ao senhor Jesus, como fez o homem de Genesaré. Deixa Jesus precipitar essa legião de armas no fundo do mar e ainda colocar uma placa no local com os seguintes dizeres: “é proibido pescar”. É agora a hora de acenar a bandeira branca da paz, cantando assim: “Bandeira branca, amor não posso mais, pela saudade que me invade eu peço paz”. Saudade de ser Feliz, peçamos ao Espírito Santo a graça de depor nossas armas, de soltar a pedras que nos ferem.

Nenhum comentário: